Uma “startup” (empresa ou negócio novo ou em fase de arranque, geralmente de carácter inovador e ligado à tecnologia) angolana criou uma plataforma que concentra informações sobre hospitais, clínicas e farmácias em todas as províncias, para “acrescentar transparência” e aproximar a população aos serviços de saúde, através da classificação dos estabelecimentos segundo o grau de satisfação.
“É todo um país que está a colaborar para uma plataforma e para uma informação fiável”, afirmou à agência Lusa o director-geral da APPY, Pedro Beirão, acrescentando que “tudo o que é mais colaborativo acrescenta transparência” e “acrescenta eficiência”.
Esta microempresa – que está representada na Web Summit, em Lisboa, pelo terceiro ano consecutivo – é a responsável pela criação de uma aplicação para smartphones que reúne informações sobre várias unidades de saúde e farmácias em Angola, permite a marcação de consultas, compra de medicamentos, aquisição de planos de saúde e também a classificação pelos utilizadores da qualidade dos serviços prestados.
De acordo com Pedro Beirão, a ideia nasceu de uma carência de informação online: “Temos sempre de perguntar a um primo ou a um amigo se conhece um médico, se conhece uma farmácia que tem um determinado medicamento”.
Através da “APPY Saúde”, uma pessoa pode pesquisar por qualquer medicamento, consultar as farmácias que o têm em stock e reservá-lo para levantar mais tarde.
O também fundador desta “startup” explicou que em Angola existe “um problema de acesso aos medicamentos”, além de os preços “serem díspares” e esta plataforma dá a oportunidade de consultar os diferentes preços “e de escolher”.
Através desta aplicação móvel, os utilizadores também podem marcar consultas em hospitais e clínicas dos sectores público e privado, consultar as especialidades exercidas e os médicos que trabalham nessas unidades de saúde.
O director-geral da microempresa referiu que, ao todo, “são mais de 2.000 estabelecimentos” de saúde, número que representa “cerca de 70%” do total nacional, e que a grande parte da recolha foi feita “quase porta a porta”.
Por essa razão, na área da saúde, esta aplicação tem “mais informação do que o Google” em Angola, referiu.
Pedro Beirão esclareceu que permitir “que as pessoas façam ratings e reviews” dos diferentes estabelecimentos permite “dar “feedback” aos diferentes serviços”, uma vez que os perfis das unidades de saúde e farmácias são notificados cada vez que é publicada uma nova opinião.
“A ideia é que as pessoas tenham acesso à saúde e que a saúde tenha acesso às pessoas”, vincou.
A equipa envolvida na plataforma é composta por 22 elementos, entre programadores e pessoas que trabalharam no inventário dos produtos, e a aplicação já ultrapassou os 50 mil downloads.
Pedro Beirão apontou que, tendo em conta que na “África subsariana o crescimento de utilização de smartphones é enorme”, o próximo passo é a expansão aos restantes países africanos, estando já a decorrer os “primeiros testes” no Ruanda.
Para o fundador desta “startup”, a Web Summit foi “um trampolim”, porque em 2017, primeiro ano em que a microempresa esteve presente na cimeira tecnológica e de empreendedorismo, foi “mais a descoberta”, mas no ano seguinte houve “encontros com vários parceiros”.
Na edição deste ano, Pedro Beirão espera encontrar-se “com mais investidores e parceiros”, de modo a poder equacionar uma eventual introdução desta plataforma além do continente africano.
Fundada em 2010 por Paddy Cosgrave, Daire Hickey e David Kelly, a Web Summit é considerada um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo e evoluiu em menos de seis anos de uma equipa de apenas três pessoas para uma empresa com mais de 150 colaboradores.
A cimeira tecnológica, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se em Lisboa desde 2016, vai manter-se na capital portuguesa até 2028, depois de, em Novembro do ano passado, ter ficado decidida a permanência da conferência em Portugal por mais 10 anos, após uma candidatura com sucesso.
O outro lado da moeda
Para além dos inegáveis e louváveis méritos desta empresa angolana, importa aquilatar o país que somos, o povo que somos e a sociedade que temos.
Numa sociedade com elevadíssimos índices de analfabetismo funcional (saber ler mal e escrever pior), vemos esta notícia/entrevista direccionado aos mais comuns cidadãos, em que se fala de startup, ratings e reviews, feedback etc.. Ao mesmo tempo encontramos os nossos jovens (os mais “promissores” alvos deste tipo de empresas) a escrever “sexta básica” e não “cesta básica”, “marimbondo na cumeia” e não na colmeia ou até, como se lê no site da Universidade Agostinho Neto (secção História), de “Repúbica”, “Silvicltura”, “Ectroténica”, “edífico”, “Ogânicas”, “orgãos”, “Senando”.
Também é verdade que não basta ser general, ou ter um diploma da Universidade Agostinho Neto, para alguém saber quando deve dizer “houver” e não “haver”, como aconteceu com o nosso mais alto magistrado, o Presidente João Lourenço.
A isso acresce que num país que tem 20 milhões de pobres, altas taxas de mortalidade infantil, assustadores índices de desemprego… falar de uma aplicação que permite a marcação de consultas, compra de medicamentos, aquisição de planos de saúde e também a classificação pelos utilizadores da qualidade dos serviços prestados, nos dá a ideia de que não estamos a falar de Angola.
Folha 8 com Lusa